quinta-feira, 10 de junho de 2010

O casamento de Romeu x Julieta

O casamento de Romeu x Julieta (2004), a que cheguei a assistir, numa curiosidade de corintiano somada à de bardólatra, no cinema, foi ontem exibido pela Rede Globo, o que me fez pensar em postar algo sobre, neste blog - um comentário breve que fosse, e será.

O filme de Bruno Barreto é uma produção despretensiosamente feliz. De início, destaco as boas atuações de Luis Gustavo e de Marco Ricca, ator este que viria, de maneira convincente, a encarnar, em 2006, o papel do protagonista de Ricardo III, com direção e tradução do texto de Jô Soares. O casamento de Romeu x Julieta não se preocupa em resgatar da atmosfera da tragédia shakespeariana muito além do mote da rivalidade entre duas famílias que dificultam a oficialização do enlace amoroso dos amantes. Na verdade, de trágico aqui não há nada. Trata-se de uma comédia mesmo, com direito a enganos risíveis no transcurso do enredo e a happy-ending selado por casamento. A brincadeira futebolística, que substitui o antagonismo itálico-medieval Montecchio-Capuletto pelo bem paulistano de nossos dias corintianos-palmeirenses, traduz a peça com o resultado eficaz de aproximá-la ao máximo de uma realidade cultural popular típica de São Paulo especificamente e do Brasil em geral. O filme, no desfecho conciliador, emite a mensagem (não poderia deixar de fazê-lo) da possibilidade e necessidade de paz entre torcidas, inclusive as arqui-inimigas - mensagem que ocupa o lugar da pedagogia shakesperiana, que ensina como a guerra entre concidadãos pode levar a fins indesejáveis à saúde sócio-política do reino; em suma, a consequências trágicas. Esse ingrediente, infelizmente, não tem faltado a nossos clássicos encenados nos estádios, com a diferença de que cabe menos aos atores que à plateia a representação da tragédia.

2 comentários:

  1. Bem observado que "cabe menos aos atores que à platéia a representação da tragédia" (existem exceções, como sempre, mas fiquemos com a predominância).

    Não vi o filme. Preconceito - réu confesso. Torço o nariz pra filme nacional, e, confessando ainda, embora vc não tenha minimamente ares sacerdotais (rs), não gostei da utilização de Shakespeare misturado ao futebol - que desprezo. Enfim, que seria do amarelo etc etc... rs

    Abraços, meu amigo.

    P.S. Só pra constar trilha sonora em comentário também, ouço The Killers, Mr Brightside... É isto.

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  2. Há filmes nacionais bons. De uns anos para cá, há uma safra interessante, embora o cinema brasileiro hoje, via de regra, se limite a dois filões: ou comédia que beira ou mergulha logo no pastelão, como esse "O casamento de Romeu x Julieta", "Os normais"... ou o denuncismo social, como "Cidade de Deus", "Tropa de elite", o mais recente "Olhos azuis"... Isso é chato! bem chato.

    Abraços!!

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