
No que se refere especificamente ao tema amoroso, Hamlet e Werther se aproximam na mesma medida em que se distanciam. Explico o aparente paradoxo. É que o personagem shakespeariano não ama Ofélia: seus sentimentos por ela decorrem de uma postura teatral assumida desde a eclosão da consciência de que o homem é essencialmente um ser miserável; por outro lado, o personagem goethiano ama, sim, a Carlota e este amor reproduz, talvez metonimicamente, seu amor pelas crianças, pela humanidade, pela natureza, pela arte - sempre correspondido aquém de suas necessidades existenciais, donde o salto suicida rumo ao Absoluto. Assim, para Hamlet como para Werther, o amor está subordinado a suas respectivas condições e concepções de vida - ou seja - nenhum dos dois seria propriamente um romântico. Essa conclusão, se é óbvia quanto ao protagonista da peça do dramaturgo elizabetano, pode parecer uma heresia exegética quanto ao protagonista do 'romance' do escritor alemão, uma vez que este, ao escrever Die Leiden des jungen Werther é um pré-romântico (o que, na verdade, reforça a diferença entre o pré-romantismo e o romantismo, chegando quase um a ser autônomo em relação ao outro). Penso isso porque o amor não transtorna, não modifica nada do ser de Hamlet e de Werther, como podemos ver, por exemplo, no Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, cujo protagonista Simão Botelho é um arruaceiro, valentão e transforma-se completamente, ao conhecer e apaixonar-se por Teresa de Albuquerque, ou também o Tristão do drama musical de R. Wagner.
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